sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

"Dios pensará de mí que soy un tío cojonudo"

"Dios pensará de mí que soy un tío cojonudo"


Morte de Deus e fim da metafísica: a luta contra os absolutos

Pretensão metafísica de absolutos como verdade e razão deve ser deixada de lado, tendo o exercício da caridade como solo comum, aponta Gianni Vattimo. Se Deus está morto e a metafísica perdeu sua efetividade, somos livres para praticarmos a caridade

Por: Márcia Junges

“O relativismo é somente uma outra face do fim da metafísica. Não existe mais um valor supremo em relação ao qual mensurar todos os outros valores. Nietzsche escreve que agora que Deus é morto e queremos que vivam muitos dos relativismos não significa ausência de valores, mas fim da pretensão do valor absoluto”, constata o filósofo italiano Gianni Vattimo, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line. Em seu ponto de vista, o pluralismo de valores e o próprio relativismo não representam um mal em si mesmos. “A violência só se desencadeia quando um dos tantos valores pretende ser o único e valer para todos”, como é o caso da política externa dos Estados Unidos, que se acredita um país representante dos “verdadeiros valores da humanidade”. Vattimo destaca as potencialidades da era de incertezas que vivemos. Para ele, “o niilismo é a via da emancipação e da salvação: somente reduzindo progressivamente as pretensões absolutas, os valores e também as evidências materiais, podemos realizar uma humanidade mais autêntica e assim menos fanática, mais amigável". E provoca: “o verdadeiro pecado original do qual ainda somos vítimas é a pretensão metafísica de ter razão”. Lutar contra os absolutos deve ser a base de entendimento com a alteridade. “Isso significa que o que devemos ter em comum é o exercício da caridade”. Para o filósofo, a “luta contra os absolutos pode ser a base sobre a qual nos entendemos com os outros”.

Criador da filosofia do “pensamento fraco”, Vattimo escreveu inúmeras obras, das quais destacamos Acreditar em acreditar (Lisboa: Relógio D’Água, 1998); Depois da cristandade. Por um cristianismo não religioso (São Paulo: Record, 2004) e O fim da modernidade: niilismo e hermenêutica na cultura pós-moderna (São Paulo: Martins Fontes, 1996). Vattimo também é deputado no Parlamento Europeu.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Como podemos compreender a “morte de Deus” e o niilismo e relativismo que vêm em seu corolário, em contraposição à crescente procura pela transcendência e pelo sagrado na pós-modernidade?

Gianni Vattimo -
A nova sensibilidade pelo transcendente, a necessidade difusa de um retorno à religião me parecem ser motivadas pela gravidade das questões éticas ante as quais se encontra hoje a humanidade: exaustão dos recursos do planeta, manipulação genética, exploração e desfrute capitalista intensificado também por causa da globalização, políticas de “segurança” contra o assim dito “terrorismo” e a revolta dos povos pobres. Um conjunto de problemas que fazem pensar na frase de Heidegger: “agora só um Deus nos pode salvar”. De outra parte, também em filosofia caíram todos os sistemas que acreditavam ter demonstrado que Deus não existe: o pensamento pós-moderno e precisamente a “morte de Deus” de que falava Nietzsche, e que era a morte da metafísica racionalista, reabriram a possibilidade de uma visão religiosa do mundo. Só que, se Deus é de novo possível para a pós-modernidade, pensar encontrá-lo nas formas da religião tradicional é um equívoco; aquele Deus (dos filósofos, como diz Pascal ; da estrutura necessária do mundo, etc.) não é mais crível. Por isso, poderemos dizer que “somente um Deus pós-metafísico” pode salvar-nos...

IHU On-Line - De que maneira essa constatação de deicídio sedimenta a dissolução dos valores e o relativismo ético que vivenciamos?

Gianni Vattimo -
O relativismo é somente uma outra face do fim da metafísica. Não existe mais um valor supremo em relação ao qual mensurar todos os outros valores. Nietzsche escreve que agora que Deus é morto e queremos que vivam muitos dos relativismos não significa ausência de valores, mas fim da pretensão do valor absoluto. O fim da metafísica é paralelo, ou idêntico, com o fim do imperialismo. Há quem pretenda uma autoridade absoluta que reivindica possuir o valor supremo: os nazistas diziam que “Deus é conosco”. E hoje uma superpotência, os Estados Unidos da América, crê representar os verdadeiros valores da humanidade, o império do bem contra o “mal”... Em si, o pluralismo dos valores, o relativismo, não é um mal. A violência só se desencadeia quando um dos tantos valores pretende ser o único e valer para todos. O cristianismo coloca primeiro a caridade, até mesmo antes da verdade. Ou melhor, há verdade vivida somente lá onde há caridade, aceitação do outro e, portanto, também relativismo.

IHU On-Line - Em que sentido o advento da morte de Deus repercute na fragmentarização e debilitamento do sujeito pós-moderno?

Gianni Vattimo -
O sujeito pós-moderno está debilitado porque não pode mais apoiar-se num valor absoluto. Mas, aqui, debilidade significa redução da violência e das pretensões de valor definitivo. Também a psicanálise deixou claro que a autoconsciência cartesiana – penso, portanto sou – não é tão absolutamente segura: há o inconsciente que a condiciona e que jamais se deixa iluminar completamente... O sujeito debilitado é somente aquele mais tolerante, aberto aos outros, já que espontaneamente (será culpa do pecado original?) o sujeito tende a ser violento, pelo que a debilidade e a abertura requerem um notável esforço: só é possível debilitar-se com um ato de vontade, e não simplesmente “deixando-se ir”.

IHU On-Line – Atualmente, desmente-se o mundo metafísico sem nem mesmo se crer no mundo físico. O que resta após esse niilismo radical?

Gianni Vattimo -
Não é necessário confundir o niilismo com uma tese metafísica. Não dizemos que não existe o mundo, nem o mundo metafísico, nem o mundo físico. Dizemos – pelo menos o “pensamento fraco” que eu professo, corrigindo Nietzsche com Heidegger - que o niilismo é a via da emancipação e da salvação: somente reduzindo progressivamente as pretensões absolutas, os valores e também as evidências materiais, podemos realizar uma humanidade mais autêntica e assim menos fanática, mais amigável. E depois não é tão irracional pensar – como haviam pensado grandes filósofos como Hegel  – que o mundo e o homem tenham um destino de uma sempre mais pura espiritualidade: menos resistência do mundo natural (ciência e técnica o plasmam e modificam), menos resistências no campo das normas e das leis (valem aquelas que livremente estabelecemos).

IHU On-Line - Que possibilidades positivas se descortinam a partir de tal configuração fragmentária do mundo?

Gianni Vattimo -
As implicações positivas deste niilismo resultam já das respostas dadas até agora: pode-se resumir tudo dizendo que se Deus está morto, se não se pode crer no absoluto da metafísica, estamos finalmente livres de praticar a caridade. A violência na história nasce sempre de uma absolutização: de si mesmo no caso mais elementar, mas também da própria “verdade” nos casos mais complexos: faço violência porque considero ter para tal o “direito”, porque tenho “razão”, porque, em tantos casos, quero impedir o outro de difundir o erro, a sua verdade... Ou até mesmo porque quero salvá-lo: o mote compelle intrare [obriga-o a entrar] (subentende-se “na Igreja”) é de Santo Agostinho: por exemplo, deves obrigar os “selvagens” da floresta amazônica a tornarem-se cristãos, “para seu bem”. Em suma, o verdadeiro pecado original do qual ainda somos vítimas é a pretensão metafísica de ter razão.

IHU On-Line - Em que medida o conceito nietzschiano de “platonismo para o povo” tem alguma atualidade crítica no que diz respeito ao cristianismo?

Gianni Vattimo -
Platonismo para o povo quer dizer convicção metafísica de estar na verdade. O cristianismo, enquanto tem sido uma força histórica que acompanhou o desenvolvimento do Ocidente, quis ser isto: a história da Igreja é plena de exemplos de violência exercida por amor à fé, à “verdade”. Mas, ao invés, era somente pretensão violenta de poder.


IHU On-Line - Qual seria o solo comum para o entendimento dos seres humanos numa sociedade com essas características niilistas?

Gianni Vattimo -
A luta contra os absolutos pode ser a base sobre a qual nos entendemos com os outros. Isso significa que o que devemos ter em comum é o exercício da caridade. Também em política um programa democrático não é, então, outra coisa senão isto: remover todos os obstáculos que se opõem à compreensão entre as pessoas: por exemplo, remover as desigualdades econômicas que nos dividem, afastar a doença e a fome, criticar e desmentir as ideologias que nascem de interesses privados por trás do “professar teorias”.

IHU On-Line - Como podemos falar e fazer solidariedade e ética no contexto do niilismo e do relativismo de valores?

Gianni Vattimo -
A tolerância não significa deixar que os outros se percam. Significa, ao invés, ajuda para cada um realizar os próprios ideais de vida. O “último” Foucault  falou com frequência de estilos de vida: basta que um estilo de vida não impeça os outros de realizarem o próprio. Pode-se observar que isto é uma espécie de minimalismo ético liberal... Mas, para realizar uma sociedade tolerante e caritativa, se requer uma verdadeira revolução...

IHU On-Line - Gostaria de acrescentar algum aspecto que não foi perguntado?

Gianni Vattimo -
Não aceitar como normal e justo aquilo que acontece habitualmente era um refrão de Bertold Brecht .


Leia mais...
>> Gianni Vattimo já concedeu outras entrevistas à IHU On-Line. Confira.

* O Cristianismo é a religião do pós-moderno. Publicada na edição 88 da Revista IHU On-Line, de 15-12-2003

* “Deus é projeto, e nós o encontramos quando temos a força para projetar”. Publicada na edição 128 da Revista IHU On-Line, de 20-12-2004

* “O pós-moderno é uma reivindicação de multiplicidade de visão de mundo”. Publicada na edição 161 da Revista IHU On-Line, de 24-10-2005

* O nazismo e o “erro” filosófico de Heidegger. Publicada na edição 187 da Revista IHU On-Line, de 03-07-2006

* Vattimo e Rorty, filósofos do pensamento “fraco”. Publicada na edição 225 da Revista IHU On-Line, de 25-06-2007

Ciclo Ecuménico de Oración

Esta semana oramos por:

Se o homem não deixar de consumir combustíveis fósseis também não terá como minimizar as consequências da braveza dos mares que, de imediato destruirá várias cidades costeiras. E se o consumo deixar de acontecer agora, o homem ainda sofrerá os danos provocados à atmosfera pelo período de 30 a 50 anos, até que o gás já emitido seja dissipado. Com o atual retrato a previsão é de que a água deverá subir entre 4 e 5m de altura. Nos Estados Unidos as principais cidades a serem atingidas são Baltimore, Miami, Nova Orleans, Nova Iorque e até Washington, além de Londres, na Inglaterra. Nova Orleans sofreu com o Katrina, mas nada foi feito para minimizar novas catástrofes, segundo cientistas, que prevêem outros furacões Além dessas, outras cidades costeiras do mundo sofrerão o mesmo efeito, devido às alterações do derretimento das calotas polares e de grandes geleiras. À medida que as calotas derretem aparecerão áreas escuras (antes gélidas e claras), onde o sol ganhará força de impacto, fenômeno chamado pelos cientistas de Efeito Feedback. Esse desaparecimento também indica que o homem presenciará mudanças na Terra. Mas, atualmente, já se registra o desaparecimento de geleiras em todo o mundo. Nas últimas 3 décadas, cerca de 25% das geleiras peruanas desapareceram. Esse registro ocasiona outro efeito nas regiões afetadas. As mudanças, por serem radicais, exigem alterações e respostas rápidas do homem na questão da sobrevivência. Os exemplos registrados até hoje mostram que a segunda parte não acontece. Ao nível dos oceanos que aumentam junte-se o calor nos mares. No ano 2000, um acontecimento jamais visto deixou cientistas perplexos. Uma barreira de 11 mil metros quadrados de gelo desprendeu-se da calota da Antártida e em torno de 3 trilhões de toneladas de gelo seguiram mar adentro. Caso somente o gelo da Antártida e da Groelândia se derreta, o nível do mar aumentará até 9m, segundo previsão científica. Programa Grace A seriedade da situação fez com que a entidade científica de influência global, a Nasa, se unisse a outra agência alemã, para juntas construírem o Programa Grace, com o objetivo de ‘bisbilhotar’ os efeitos do degelo. O programa lançou os satélites Tom e Jerry, que há cinco anos medem as alterações gravitacionais ocasionadas pelo derretimento de gelo na Groelândia e na Antártida. Toda a água compactada em blocos de gelo ao derreter, ocasiona mais pressão por ocupar mais volume no espaço. Satélites monitoram os efeitos do degelo na pressão atmosférica Segundo cientistas o calor derrete entre 100 e 200 bilhões de toneladas de gelo por ano. Invasão de mares Em muitos lugares do mundo o mar é o responsável pela perda de terra seca em função ao aumento de seu nível. Em Bangladesh fazendeiros perderam áreas de plantação de arroz por causa da invasão de água salgada do mar. Além de causar sérios problemas sócio-econômicos, provocando a mudança de comportamento de animais e migrações em massa para países desenvolvidos, o risco da falta de água potável é outro grande problema a enfrentar. No Rio de Janeiro Em São João da Barra, no norte fluminense, uma maré alta destruiu um prédio de quatro andares, em 5 de abril de 2008. Nos últimos 35 anos, o mar avança a média de 3m a cada 12 meses. Mais de 200 casas já foram destruídas pelas ondas, desabrigando moradores. Segundo pesquisas do Departamento de Engenharia Cartográfica da Universidade do Estado de Rio de Janeiro (Uerj), nos últimos meses a erosão tem se acelerado, além do previsto e avançou 7m, o dobro da média anual, medida desde a década de 50. Nos Estados Unidos A cada dia a água do mar invade 30cm de área da cidade de Luziânia (EUA) e grandes áreas de terra são consumidas pelo mar. Na mesma região, 13 ilhas desapareceram nos últimos 100 anos e a remanescente Ilha Robert já perdeu 8m de terra desde junho de 2008. No século passado, os Estados Unidos sofreram a ação devastadora provocada por 167 furacões. Os mais violentos foram o Vilma, Rita e o Katrina. O Projeto Argo, lançado para medir o estado físico dos oceanos, mostra por meio de 3 mil bóias distribuídas pelos oceanos, que o aquecimento ocorre com velocidade alarmante. E somente neste século, os cientistas prevêem a elevação do nível do mar entre 30 a 90cm. Cidades vulneráveis As cidades norte-americanas ameaçadas por furacões do nível 2 (como o Isabel), são Baltimore, Nova Orleans, Miami, Nova Iorque e até Washington. Londres não fica fora da lista. Elas são vulneráveis a furacões que podem provocar o aumento do nível do mar e inundações de 4 a 5m. Segundo previsões, os furacões continuarão e com maior incidência Na Europa Em fevereiro de 1953, a força dos ventos e a maré alta destruíram diques na Holanda, desenvolvidos desde a Idade Média. O resultado foi desastroso, pois 300 fazendas e 3 mil casas foram destruídas e 1,8 mil pessoas morreram. Em 2007 o mar invadiu a capital da Finlândia. Destruição de efeito dominó Os pântanos, ao lado das ilhas, são acidentes geográficos que minimizam a ação de furacões, por desgastar por fricção, a velocidade do vento. Mas, também, ao lado das ilhas, segundo pesquisa, os pântanos estão desaparecendo. O aumento da temperatura dos oceanos também ocasiona tempestades violentas. O oceano mais quentes e o aquecimento que provoca o degelo de calotas polares, causará destruição sem limites. Leia mais no livro Fronteira Final

NOTÍCIAS

Get Adobe Flash player

Páginas

A minha Lista de blogues