Certa vez, Sigmund Freud questionou uma amiga: "Mas, afinal, o que querem as mulheres?". Nem ele nem ninguém jamais conseguiu esclarecer o enigma. Mas, se formos um pouco mais modestos e perguntarmos apenas "o que quer o ser humano?", a resposta é quase óbvia: queremos a felicidade.
Eu não digo isso sozinho. Na verdade, essa é uma noção bastante popular entre filósofos de diferentes épocas e orientações. Já no século 4º a.C., Aristóteles afirmou que a "eudaimonía" (felicidade) é o fim de toda ação humana. Jeremy Bentham (1746-1832) não só definiu que a meta das políticas públicas era promover o bem-estar como fez a primeira tentativa de calculá-lo objetivamente. Thomas Jefferson (1743-1826) incluiu a "busca pela felicidade" entre os direitos inalienáveis elencados na Declaração de Independência dos EUA, ao lado da vida e da liberdade.
A grande dificuldade é que, apesar de sabermos o que queremos, somos péssimos em obtê-lo. Ou melhor, nós até que nos saímos relativamente bem quando lidamos com a felicidade presente (temos, afinal, o prazer para nos guiar), mas basta adicionar a dimensão temporal, isto é, colocá-la no passado ou no futuro, para que tudo dê errado.
A boa notícia é que, com auxílio da neurociência e da economia, psicólogos estão conseguindo mapear os problemas. Ainda não são capazes de oferecer uma receita para a felicidade, mas já podem apontar um punhado de coisas que não deveríamos fazer, mas vamos continuar fazendo do mesmo jeito.
Várias boas obras tratam do assunto: "Stumbling on Happiness" (tropeçando na felicidade), de Daniel Gilbert, "The Happiness Hypothesis" (a hipótese de felicidade), de Jonathan Haidt, e "The Paradox of Choice" (o paradoxo da escolha), de Barry Schwartz, para citar apenas três.
Centro hoje meus comentários no livro de Gilbert. Se o resultado deixar eu e os leitores felizes, poderei, no futuro, voltar a abordar o tema com o enfoque dos outros autores.
Acho que foi o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan quem afirmou que, "no Brasil, até o passado é incerto". A frase é boa porque vem revestida com ares de paradoxo. Analisando bem, contudo, há poucas coisas mais incertas do que o passado, em especial nosso passado pessoal. E isso porque nós o acessamos através da memória, a qual, mais do que imperfeita, é irremediavelmente traiçoeira.
Sempre que a utilizamos, temos a sensação de estar consultando um registro fotográfico de cenas ou um meticuloso banco de dados. Essa é mais uma das trapaças de nossos cérebros. Qualquer um que já tenha tentado guardar fotos ou filmes no computador sabe quanta memória isso consome. Apesar de termos bilhões de neurônios formando trilhões de conexões, não haveria espaço para armazenar toda uma vida na forma de imagens gravadas.
Na verdade, o que o cérebro guarda são registros hipertaquigráficos a partir dos quais a nossa mente reconstrói o episódio cada vez que nos lembramos dele. Como não poderia deixar de ser, este processo sofre distorções pelo que estamos sentindo ou pensando no momento em que acionamos a memória.
Num experimento clássico, voluntários veem uma série de slides de um carro vermelho que se aproxima de uma placa de "dê a preferência", vira à direita e acerta um pedestre. Depois de observar as imagens, o grupo se divide em dois. O primeiro é o controle. Os pesquisadores não fazem nenhum comentário para eles. Para o segundo, perguntam se viram um outro carro passar o veículo vermelho quando ele estava diante da placa de "pare". Em seguida, os voluntários são colocados diante de duas imagens: o carro vermelho se aproximando de uma placa de "dê a preferência" e outra dele chegando perto do sinal de "pare". Quando se pergunta qual o slide que eles haviam visto originalmente, mais de 90% dos que estavam no grupo de controle apontam para o "dê a preferência". Já no grupo que foi influenciado pela pergunta, 80% indicam o "pare". Uma simples perguntinha alterou sua memória. Evidentemente, quando há emoções envolvidas, a coisa só fica pior.
Também fica pior quando nos movemos para o futuro em vez de para o passado. O acesso aqui já não é pela memória, mas pela imaginação. Nós a utilizamos para tentar estimar como nos comportaremos em situações hipotéticas que ainda não aconteceram. Mas, a exemplo da memória, nossa imaginação também carrega uma série de falhas de engenharia e vieses que a tornam presa fácil de todo gênero de armadilhas.
É por isso que não hesitamos muito antes de repetir erros que deveriam ser conhecidos, como voltar a passar férias na casa da sogra, mesmo depois dos micos que tivemos de pagar e das guerras entre parentes que tivemos de testemunhar no ano anterior. Sob a excitação da perspectiva de sair em férias, o cérebro imagina o futuro mobilizando apenas as lembranças positivas das estadias prévias e seletivamente ignorando as negativas. É também por isso que pessoas voltam a contrair núpcias. O segundo casamento é, segundo Samuel Johnson, "o triunfo da esperança sobre a experiência". Nunca se esqueça de que a mente é uma grande trapaceira.
Quer mais algumas enganações? Pois bem, tendemos a considerar mais provável aquilo que imaginamos com mais frequência. Como pessoas normais preferem pensar em coisas boas a ruins, somos aquilo que a literatura chama de "eternos otimistas". A maioria de nós espera viver mais, ter casamentos mais longos, viajar mais e ser mais inteligente do que a média. Mesmo quando tomamos um banho de realidade, isto é, quando somos confrontados com fatos negativos como sobreviver a um desastre natural ou presenciar um acidente na estrada, o efeito realístico desses eventos tende a durar pouco e, após algumas semanas ou quilômetros, a ilusão de segurança se restabelece. Esse otimismo visceral é também a razão do sucesso de loterias, das quais mentes racionais guardam econômica distância.
Por vezes, o impacto do evento negativo até reforça o otimismo. É o que concluiu um estudo de 2003 que mostrou que pacientes de câncer tinham mais confiança em seu futuro do que pessoas saudáveis. A grande exceção a esse quadro parece ser a depressão. O sujeito deprimido faz uma avaliação absolutamente realista de suas capacidades e perspectivas. Em resumo, não vivemos felizes (e nem mesmo saudáveis) sem ilusões.
Algumas delas são bastante poderosas. O dinheiro traz felicidade? Sim, mas só até certo ponto, ou, para ser preciso, só até US$ 100 mil, anuais. Várias pesquisas mostram que o dinheiro é necessário para garantir condições básicas de vida que nos permitam aproveitá-la adequadamente, mas rendimentos que excedam essa cifra não acrescentam nada em felicidade.
O mesmo vale para filhos. Só que eles, na verdade, trazem infelicidade. Quatro trabalhos diferentes mostraram que o sonho da paternidade/maternidade deixa casais mais infelizes, pelo menos no intervalo que vai do nascimento do mais velho ao instante em que o caçula sai de casa. É só a partir daí que marido e mulher voltam a experimentar os níveis de satisfação que tinham como recém-casados.
O mesmo vale para filhos. Só que eles, na verdade, trazem infelicidade. Quatro trabalhos diferentes mostraram que o sonho da paternidade/maternidade deixa casais mais infelizes, pelo menos no intervalo que vai do nascimento do mais velho ao instante em que o caçula sai de casa. É só a partir daí que marido e mulher voltam a experimentar os níveis de satisfação que tinham como recém-casados.
Tais ilusões prosperam porque são biológica ou socialmente úteis. Um país em que as pessoas parassem de produzir depois de atingir determinado nível de rendimento rapidamente patinharia na estagnação econômica. No caso dos filhos a importância é ainda mais evidente: quem não os tem não passa seus genes adiante. Nesse quesito como em tantos outros, estamos programados para ser enganados.
É claro que o fato de haver ilusões necessárias não implica que todas o sejam. Há muitas, talvez a maioria, que é melhor evitar. Como temos enorme dificuldade para imaginar corretamente como nos sentiremos no futuro, o melhor caminho é perguntar para pessoas que estão vivendo hoje a situação que enfrentaremos como elas se sentem. Um exemplo forte é o de uma doença terminal ou severamente limitante. Se nos perguntam como reagiríamos, muitos, do alto de sua saúde, dirão que prefeririam morrer. Entretanto, a esmagadora maioria dos que recebem um diagnóstico sombrio ou sofrem um acidente não tenta o suicídio. Perguntar a um bom número deles como se sentem é provavelmente uma apreciação mais realista do que a fornecida por nossa imaginação.
Esse remédio, entretanto, é muito pouco utilizado. Segundo Gilbert, isso ocorre porque, entre as falhas de fabricação de nosso cérebro, está aquela que faz com que nos vejamos como um sujeito individual e único. É claro que somos todos únicos, mas somos também muito mais parecidos uns com os outros do que gostamos de supor.
Vamos desenvolver um pouco mais o tema. Proponho Richard Thaler (Universidade de Chicago) e Cass Sunstein (Chicago e Harvard), autores de "Nudge: Improving Decisions About Health, Wealth and Happiness". O livro foi traduzido para o português com o título "Nudge: O Empurrão para a Escolha Certa".
Thaler é um economista comportamental. Depois de Daniel Kahneman (Nobel de 2002) é provavelmente o nome mais conhecido nesse campo. Já Sunstein é constitucionalista. É um dos proponentes do minimalismo judiciário.
Em "Nudge" eles advogam pelo que chamam de "paternalismo libertário". A ideia básica é que seres humanos são tudo menos os agentes racionais e bem informados imaginados pelos manuais clássicos de economia. No mundo real, as pessoas frequentemente tomam as piores decisões possíveis em relação a seu futuro. Fazem-no em grande parte devido a vieses cerebrais que são não apenas previsíveis como também quantificáveis.
O que Thaler e Sunstein propõem é que utilizemos uma outra característica do mundo real, a inevitabilidade de fazer determinadas escolhas, para, sem nenhuma espécie de autoritarismo, empurrar ("to nudge") as pessoas na direção certa.
O exemplo com o qual abrem o livro é eloquente: imagine Carolyn. Ela é diretora de alimentação de um grande distrito escolar. Isso significa que ela organiza e administra os vários refeitórios nos quais milhares de alunos se alimentam diariamente. Um dia, jantando com seu amigo Adam, estatístico e consultor de negócios para supermercados, eles têm a ideia de fazer alguns experimentos heterodoxos. Querem descobrir se, sem alterar o menu das cafeterias, apenas a disposição da comida no balcão, conseguem fazer os estudantes mudarem seus hábitos alimentares. São decisões simples, do tipo vamos colocar a salada ou a sobremesa no início do balcão? Os vegetais ficarão à altura dos olhos ou um pouco mais escondidos? Pelo menos para Adam, não foi surpresa nenhuma descobrir que esse tipo de manipulação podia fazer o consumo de um determinado item aumentar ou diminuir em até 25%.
A pergunta é, como Carolyn deve dispor a comida:
1 - De modo a deixar os alunos na melhor situação possível;
2 - Por sorteio, para não favorecer nenhum fornecedor;
3 - Para maximizar os lucros (nos EUA, a maioria paga pela merenda).
A maioria de nós não hesitaria muito antes de optar por 1. Thaler e Sunstein concordam. Para eles, é legítimo manipular a colocação dos alimentos tendo como critério a saúde dos alunos (paternalismo), desde que nenhum deles seja forçado a consumir o que não deseje (libertário).
As pessoas que, como Carolyn, respondem pela forma como decisões serão tomadas são os arquitetos de escolhas. Os autores sustentam que uma melhor arquitetura de escolhas, que leve em conta as falhas no projeto de nossos cérebros, traria grandes benefícios a custos mínimos.
Um exemplo quase escatológico é o do aeroporto de Schiphol, em Amsterdã. Como em qualquer lugar de alta rotatividade, era difícil manter o banheiro masculino limpo. Aparentemente, a maioria dos homens não tem boa mira ou não presta muita atenção na hora de urinar. Foi aí que o economista Aad Kieboom, responsável pelas obras de expansão do aeroporto, teve uma ideia revolucionária. Mandou pintar uma mosca no fundo de cada urinol. Tendo um alvo preciso, a pontaria masculina melhorou enormemente. Após uma série de testes, Kieboom e sua equipe de funcionários concluíram que o índice de derramamento de urina caiu em 80%. A mosca é um autêntico "nudge", um empurrãozinho não autoritário que leva as pessoas a fazer o que é melhor para elas e/ou para a sociedade. Colocar as frutas num lugar privilegiado conta como "nudge"; banir a "junk-food", não.
Essa teoria se aplica a vários campos. Problemas de autocontrole? De fato, o cérebro conta com dois "sistemas" para reagir ao mundo, um automático e outro reflexivo. Este último é lento e pouco eficiente. Mas é também o único capaz de fazer contas e planejar o futuro. É ele, por exemplo, que nos leva a querer ser magros para prevenir doenças. O problema é que, quando comemos, nos deixamos levar pelo sistema automático. E ele só para quando o prato (ou a despensa) acabam.
Num experimento genial bolado por Brian Wasnick, os pesquisadores produziram pipocas especialmente intragáveis (estouradas cinco dias antes e conservadas em lugar inadequado) e as deram para voluntários numa sessão de cinema. Metade deles recebeu o pacote grande e metade o médio. Os que foram premiados com o grande comeram 53% mais, mesmo negando a possibilidade de se deixarem enganar por um truque tão bobo. Um bom começo para o seu regime pode ser comprar um jogo de pratos menores.
Outro bom "nudge" dietético é sentar-se com o sujeito mais magro que estiver no refeitório na hora do almoço. Nossa tendência a mimetizar comportamentos das pessoas com as quais nos relacionamos torna fenômenos como obesidade, vício em drogas e gravidez precoce contagiosos.
O terreno mais propício para plantar "nudges" é o das decisões complexas e raras, que tomamos poucas vezes na vida, como a escolha do plano de aposentadoria, de saúde e o regime de casamento. Aqui, a chave para evitar más escolhas é criar um bom "default". Isso porque nós humanos temos o que os psicólogos chamam de viés da inércia e do "statu quo". Traduzindo: adoramos não mexer em decisões passadas. A prova cabal é que assinamos revistas uma vez na vida e seguimos por anos a fio na renovação automática, mesmo que já não tenhamos interesse na publicação. Aqui, a arquitetura (a renovação automática) favorece enormemente os editores. Se o "default" fosse "a assinatura só é renovada se o cliente pedir", vender revistas seria um negócio bem mais difícil.
Thaler e Sunstein defendem, por exemplo, que um contrato de trabalho típico inclua como "default" a entrada do empregado no fundo de pensão da empresa. Como o hoje a norma nos EUA é o não ingresso, muitos norte-americanos estão desprezando agora dinheiro de graça (a contrapartida da empresa) que certamente lhes fará falta no futuro.
Os autores sugerem mecanismos semelhantes para a definição do plano de saúde e para programas de investimento. Em relação ao casamento, são mais radicais. Defendem que o Estado saia desse negócio. Oficialmente, só existiriam uniões civis, que são contratos entre duas (e eventualmente mais) pessoas de qualquer sexo. Como no Brasil, elas nem precisam ser registradas. Valem a partir do momento em que existem. E aí, o casamento vira um negócio eminentemente privado. Qualquer um poderá celebrá-lo, de igrejas a associações de mergulhadores. Mais importante, cada qual poderá seguir suas próprias regras. Se a religião A diz que casamento é só entre homem e mulher, não está obrigada a unir homossexuais. Já os mergulhadores poderão fazê-lo, até debaixo d'água. Cada um faz o que quer e todos ficam felizes.
"Nudges" também resolvem um problema que me foi proposto algumas vezes por leitores libertários: a exigência do cinto de segurança não é uma intromissão ilegítima do Estado na vida do cidadão? Bem, nessa filosofia "nudgística" podemos imaginar um sistema no qual o cinto é normalmente exigido, sob pena de multa. Quem não concordar pode ir ao Detran e assinar uma série de formulários, pelos quais se compromete a pagar do próprio bolso despesas médicas decorrentes de uma batida e isenta de responsabilidade civil e penal (vamos fingir que a legislação brasileira o permite) quem com eles colida. Esse sujeito ficaria então livre de multas por conduzir sem cinto. Como o viés de inércia é forte, o mais provável é que um número reduzidíssimo de libertários obstinados assinasse a papelada. As virtudes públicas da obrigatoriedade do cinto seriam conservadas, e a liberdade (inclusive a de errar) preservada.
A beleza dos "nudges" na forma como Thaler e Sunstein os propõem é que eles nos permitem seguir operando com os conceitos liberais e democráticos do Iluminismo (que pressupõem agentes racionais) mesmo reconhecendo que o homem é no mais das vezes irracional, ou melhor, previsível e quantificavelmente irracional.
Vamos desenvolver um pouco mais o tema. Proponho Richard Thaler (Universidade de Chicago) e Cass Sunstein (Chicago e Harvard), autores de "Nudge: Improving Decisions About Health, Wealth and Happiness". O livro foi traduzido para o português com o título "Nudge: O Empurrão para a Escolha Certa".
Thaler é um economista comportamental. Depois de Daniel Kahneman (Nobel de 2002) é provavelmente o nome mais conhecido nesse campo. Já Sunstein é constitucionalista. É um dos proponentes do minimalismo judiciário.
Em "Nudge" eles advogam pelo que chamam de "paternalismo libertário". A ideia básica é que seres humanos são tudo menos os agentes racionais e bem informados imaginados pelos manuais clássicos de economia. No mundo real, as pessoas frequentemente tomam as piores decisões possíveis em relação a seu futuro. Fazem-no em grande parte devido a vieses cerebrais que são não apenas previsíveis como também quantificáveis.
O que Thaler e Sunstein propõem é que utilizemos uma outra característica do mundo real, a inevitabilidade de fazer determinadas escolhas, para, sem nenhuma espécie de autoritarismo, empurrar ("to nudge") as pessoas na direção certa.
O exemplo com o qual abrem o livro é eloquente: imagine Carolyn. Ela é diretora de alimentação de um grande distrito escolar. Isso significa que ela organiza e administra os vários refeitórios nos quais milhares de alunos se alimentam diariamente. Um dia, jantando com seu amigo Adam, estatístico e consultor de negócios para supermercados, eles têm a ideia de fazer alguns experimentos heterodoxos. Querem descobrir se, sem alterar o menu das cafeterias, apenas a disposição da comida no balcão, conseguem fazer os estudantes mudarem seus hábitos alimentares. São decisões simples, do tipo vamos colocar a salada ou a sobremesa no início do balcão? Os vegetais ficarão à altura dos olhos ou um pouco mais escondidos? Pelo menos para Adam, não foi surpresa nenhuma descobrir que esse tipo de manipulação podia fazer o consumo de um determinado item aumentar ou diminuir em até 25%.
A pergunta é, como Carolyn deve dispor a comida:
1 - De modo a deixar os alunos na melhor situação possível;
2 - Por sorteio, para não favorecer nenhum fornecedor;
3 - Para maximizar os lucros (nos EUA, a maioria paga pela merenda).
A maioria de nós não hesitaria muito antes de optar por 1. Thaler e Sunstein concordam. Para eles, é legítimo manipular a colocação dos alimentos tendo como critério a saúde dos alunos (paternalismo), desde que nenhum deles seja forçado a consumir o que não deseje (libertário).
As pessoas que, como Carolyn, respondem pela forma como decisões serão tomadas são os arquitetos de escolhas. Os autores sustentam que uma melhor arquitetura de escolhas, que leve em conta as falhas no projeto de nossos cérebros, traria grandes benefícios a custos mínimos.
Um exemplo quase escatológico é o do aeroporto de Schiphol, em Amsterdã. Como em qualquer lugar de alta rotatividade, era difícil manter o banheiro masculino limpo. Aparentemente, a maioria dos homens não tem boa mira ou não presta muita atenção na hora de urinar. Foi aí que o economista Aad Kieboom, responsável pelas obras de expansão do aeroporto, teve uma ideia revolucionária. Mandou pintar uma mosca no fundo de cada urinol. Tendo um alvo preciso, a pontaria masculina melhorou enormemente. Após uma série de testes, Kieboom e sua equipe de funcionários concluíram que o índice de derramamento de urina caiu em 80%. A mosca é um autêntico "nudge", um empurrãozinho não autoritário que leva as pessoas a fazer o que é melhor para elas e/ou para a sociedade. Colocar as frutas num lugar privilegiado conta como "nudge"; banir a "junk-food", não.
Essa teoria se aplica a vários campos. Problemas de autocontrole? De fato, o cérebro conta com dois "sistemas" para reagir ao mundo, um automático e outro reflexivo. Este último é lento e pouco eficiente. Mas é também o único capaz de fazer contas e planejar o futuro. É ele, por exemplo, que nos leva a querer ser magros para prevenir doenças. O problema é que, quando comemos, nos deixamos levar pelo sistema automático. E ele só para quando o prato (ou a despensa) acabam.
Num experimento genial bolado por Brian Wasnick, os pesquisadores produziram pipocas especialmente intragáveis (estouradas cinco dias antes e conservadas em lugar inadequado) e as deram para voluntários numa sessão de cinema. Metade deles recebeu o pacote grande e metade o médio. Os que foram premiados com o grande comeram 53% mais, mesmo negando a possibilidade de se deixarem enganar por um truque tão bobo. Um bom começo para o seu regime pode ser comprar um jogo de pratos menores.
Outro bom "nudge" dietético é sentar-se com o sujeito mais magro que estiver no refeitório na hora do almoço. Nossa tendência a mimetizar comportamentos das pessoas com as quais nos relacionamos torna fenômenos como obesidade, vício em drogas e gravidez precoce contagiosos.
O terreno mais propício para plantar "nudges" é o das decisões complexas e raras, que tomamos poucas vezes na vida, como a escolha do plano de aposentadoria, de saúde e o regime de casamento. Aqui, a chave para evitar más escolhas é criar um bom "default". Isso porque nós humanos temos o que os psicólogos chamam de viés da inércia e do "statu quo". Traduzindo: adoramos não mexer em decisões passadas. A prova cabal é que assinamos revistas uma vez na vida e seguimos por anos a fio na renovação automática, mesmo que já não tenhamos interesse na publicação. Aqui, a arquitetura (a renovação automática) favorece enormemente os editores. Se o "default" fosse "a assinatura só é renovada se o cliente pedir", vender revistas seria um negócio bem mais difícil.
Thaler e Sunstein defendem, por exemplo, que um contrato de trabalho típico inclua como "default" a entrada do empregado no fundo de pensão da empresa. Como o hoje a norma nos EUA é o não ingresso, muitos norte-americanos estão desprezando agora dinheiro de graça (a contrapartida da empresa) que certamente lhes fará falta no futuro.
Os autores sugerem mecanismos semelhantes para a definição do plano de saúde e para programas de investimento. Em relação ao casamento, são mais radicais. Defendem que o Estado saia desse negócio. Oficialmente, só existiriam uniões civis, que são contratos entre duas (e eventualmente mais) pessoas de qualquer sexo. Como no Brasil, elas nem precisam ser registradas. Valem a partir do momento em que existem. E aí, o casamento vira um negócio eminentemente privado. Qualquer um poderá celebrá-lo, de igrejas a associações de mergulhadores. Mais importante, cada qual poderá seguir suas próprias regras. Se a religião A diz que casamento é só entre homem e mulher, não está obrigada a unir homossexuais. Já os mergulhadores poderão fazê-lo, até debaixo d'água. Cada um faz o que quer e todos ficam felizes.
"Nudges" também resolvem um problema que me foi proposto algumas vezes por leitores libertários: a exigência do cinto de segurança não é uma intromissão ilegítima do Estado na vida do cidadão? Bem, nessa filosofia "nudgística" podemos imaginar um sistema no qual o cinto é normalmente exigido, sob pena de multa. Quem não concordar pode ir ao Detran e assinar uma série de formulários, pelos quais se compromete a pagar do próprio bolso despesas médicas decorrentes de uma batida e isenta de responsabilidade civil e penal (vamos fingir que a legislação brasileira o permite) quem com eles colida. Esse sujeito ficaria então livre de multas por conduzir sem cinto. Como o viés de inércia é forte, o mais provável é que um número reduzidíssimo de libertários obstinados assinasse a papelada. As virtudes públicas da obrigatoriedade do cinto seriam conservadas, e a liberdade (inclusive a de errar) preservada.
A beleza dos "nudges" na forma como Thaler e Sunstein os propõem é que eles nos permitem seguir operando com os conceitos liberais e democráticos do Iluminismo (que pressupõem agentes racionais) mesmo reconhecendo que o homem é no mais das vezes irracional, ou melhor, previsível e quantificavelmente irracional.
Receita para a felicidade 2: Los periodistas deportivos, ¿tenemos derecho a exteriorizar nuestras simpatías? Hay quien todavía vive en las musarañas y aboga por un gremio periodístico neutral e imparcial. Eso ocurrirá el día en que nuestro trabajo lo hagan directamente los ordenadores, desprovistos de cualquier tipo de opinión y sensibilidad. Lo digo porque hay quien critica a colegas como Tomás Roncero por considerarlo más un forofo del Real Madrid que un periodista. Y lo mismo se puede aplicar a otros queridos compañeros que no ocultan sus simpatías por otros equipos. ¿Y del Barça?
Lo del Barça no tiene mérito ni secreto: ser del Barça es casi lo normal, lo razonable, lo sensato y serio. Porque el juego del Barça es seductor e influye en el gusto -en el buen gusto, diría yo- de cuantos tenemos la satisfacción de gozar con el buen estilo y el espectáculo de altísimo nivel que ofrece el equipo de Pep Guardiola. ¿No hay críticos de arte cautivados por la obra de Pablo Picasso? ¿Son por ello críticos poco serios, parciales o 'vendidos'? ¿Lo es un crítico musical por declararse seducido por las sinfonías de Ludwig van Beethoven o los conciertos de Wolfgang Amadeus Mozart? Yo pienso que no, que eso entra dentro de la normalidad tratándose de seres racionales. Lo que debe hacer un crítico, lo mismo que un periodista deportivo, es señalar los defectos en la interpretación de una obra. Y eso es lo que hacemos con nuestras crónicas y nuestros análisis, y si hay que pegarle un palo -suave y sin acritud, claro está- a Sandro Rosell o a Pep Guardiola, pues lo hacemos tratando de aportar nuestros argumentos, que no siempre tienen que ser los más atinados. Lo erróneo es ver que un equipo corre peligro de estrellarse, como sucede actualmente en el Madrid, y barrer toda la porquería bajo la alfombra. Eso sí que es propio de forofos e impropio de periodistas juiciosos.Yo, que he tenido muchos maestros en mi vida, siempre procuro tener presente lo que dijo Andreu Mercé Varela, a quien enterramos el martes. Andreu era amigo de la elite del olimpismo, de los máximos dirigentes de las federaciones y del deporte mundial. "¿Y cómo lo haces el día que tienes que criticarles?", le pregunté un día. "Escribo lo que debo pero sin ensañarme, sin hacer sangre". Eso es lo que me sugiere el contraste entre los llamados entornos mediáticos del Madrid y del Barça ante las realidades tan distintas, casi antagónicas, que viven ambos equipos. Pero, ojo: que la sangre nunca llegue al río
Albert Benaiges dijo en Ona FM que uno de los jugadores que más prometían al llegar a La Masia era Haruna Babangida. Me alegró oír una opinión tan cualificada porque el nigeriano es el único jugador por el que yo tuve una discusión con Van Gaal, en una agitada sobremesa. Ahora, 'Chapi' Ferrer trata de recuperarlo en el Vitesse. 'Baba' fue en su día mejor futbolista mundial Sub-16 y ha dado tumbos por Grecia, Chipre, Rusia y el Mainz alemán. A sus 28 años, 'Chapi' le brinda una segunda gran oportunidad.
La indiferencia del inepto e incombustible Ángel María Villar me parece escandalosa frente a la degradación de la deportividad en nuestros campos de fútbol. Vídeos agresivos como el del Sevilla, recogepelotas aleccionados para estorbar, público cortando el avance de los equipos visitantes lanzando pelotas al césped, rayos láser a la cara del jugador que va a lanzar una falta y, lo peor, agresiones por lanzamiento de objetos como las que sufrió Abidal en San Mamés y Casillas en el Pizjuán, son una seria amenaza para nuestro fútbol. Estamos en el inicio de algo que es mejor cortar de raíz antes de que cunda el efecto contagio, aunque el perjudicado no sea tu equipo.
Josep Mussons, por quien no pasan los años, ha impulsado el grupo de ex directivos y empleados de La Masia que se reúnen una vez al mes. El lunes lo hicieron en la propia Masia del Barça. Fue una velada inolvidable, aunque uno tuviera la impresión de estar profanando el santuario donde se graduaron en barcelonismo los Guardiola, Iniesta, Víctor Valdés... Las palabras de Guillermo Amor (palabras de Amor) definieron el calor humano que reciben los chavales en la que es ya una institución admirada en todo el mundo.
http://www.elmundodeportivo.es/gen/20110203/54109558805/opi/ser-del-barsa-es-lo-sensato.html