Sandro Pozzi - EL PAIS/TIME
¿Nuevo zodiaco? El astrónomo Parke Kunkle dice que el cambio de posición de la tierra obliga a revisar los signos astrológicos, e incorporar Ophiuchus a la lista. Para el que crea en el horóscopo, con el cambio el sol estaría ahora en Sagitario (17/12-20/1). http://cort.as/0V9C
According to the Minnesota Planetarium Society, here is where the real signs of the Zodiac should fall. Get ready for your world to change forever.
Capricorn: Jan. 20-Feb. 16.
Aquarius: Feb. 16-March 11.
Pisces: March 11-April 18.
Aries: April 18-May 13.
Taurus: May 13-June 21.
Gemini: June 21-July 20.
Cancer: July 20-Aug. 10.
Leo: Aug. 10-Sept. 16.
Virgo: Sept. 16-Oct. 30.
Libra: Oct. 30-Nov. 23.
Scorpio: Nov. 23-29.
Ophiuchus: Nov. 29-Dec. 17. (Yep, this one is new — read all about the Ophiuchus way of life here or here:
Sagittarius: Dec. 17-Jan. 20.
EM VEZ DA ERA DO AQUÁRIO ERA DE CAPRICÓRNIO
http://www.foxnews.com/scitech/2011/01/11/age-aquarius-actually-age-capricorn-thanks-rotation-earth/
Aquarius: Feb. 16-March 11.
Pisces: March 11-April 18.
Aries: April 18-May 13.
Taurus: May 13-June 21.
Gemini: June 21-July 20.
Cancer: July 20-Aug. 10.
Leo: Aug. 10-Sept. 16.
Virgo: Sept. 16-Oct. 30.
Libra: Oct. 30-Nov. 23.
Scorpio: Nov. 23-29.
Ophiuchus: Nov. 29-Dec. 17. (Yep, this one is new — read all about the Ophiuchus way of life here or here:
Sagittarius: Dec. 17-Jan. 20.
EM VEZ DA ERA DO AQUÁRIO ERA DE CAPRICÓRNIO
http://www.foxnews.com/scitech/2011/01/11/age-aquarius-actually-age-capricorn-thanks-rotation-earth/
Dijo Jesús: «Si aquellos que os guían os dijeren: Ved, el Reino está en el cielo, entonces las aves del cielo os tomarán la delantera. Y si os dicen: Está en la mar, entonces los peces os tomarán la delantera. Mas el Reino está dentro de vosotros y fuera de vosotros. Cuando lleguéis a conoceros a vosotros mismos, entonces seréis conocidos y caeréis en la cuenta de que sois hijos del Padre Viviente. Pero si no os conocéis a vosotros mismos, estáis sumidos en la pobreza y sois la pobreza misma».
Ouça uma música
LINHA AVANÇADA:
Munilla predica el respeto y la castidad contra la violencia machista El obispo de San Sebastián, José Ignacio Munilla, defiende "las virtudes de la humildad, paciencia, respeto y de la castidad indispensables para que no se animalice la relación del hombre con la mujer". (EFE)
http://www.marca.com/blogs/tiros-libres/2011/01/18/la-mascota-de-los-jazz-se-pega-en-mitad.html
A meteorologia na vida brasileira
O brasileiro nunca deu muita bola para a meteorologia, que, nos países verdadeiramente temperados, chega a ser uma obsessão nacional. A diferença se explica. Por aqui, a previsão climática é quase monótona: há o tempo seco e o chuvoso, o período de calor escaldante e o suportável. A vida não muda radicalmente quer estejamos num ou noutro. Já nas nações de altas latitudes, a estação dita o ritmo de nossas existências: o que se pode fazer no inverno é muito diferente das atividades de verão, e isso afeta desde os esportes que podem ser praticados até os estados de espírito.
No período do frio, a vida se volta para ambientes internos, a luz solar escasseia, cada incursão ao mundo exterior exige preparativos, sendo, portanto, revestida de solene gravidade. Por contraste, o verão ganha uma ligeireza quase institucional: um autêntico "midwestern" norte-americano se vestirá de bermudas e camiseta em meados de setembro mesmo que a temperatura atinja 5ºC ao cair do dia. Afinal, ainda é verão.
Por aqui, são necessário eventos catastróficos como o da região serrana do Rio de Janeiro para nos fazer lembrar da importância do clima. É claro que a quantidade de chuva é apenas um dos ingredientes da tragédia. O bom Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) já havia observado que as consequências de desastres naturais são em larga medida determinadas pelos homens. Como escreveu o genebrino a respeito do grande terremoto de Lisboa (1755), não foi a natureza que, numa área relativamente exígua "reuniu 20 mil casas de seis ou sete andares". Ele vai ainda mais além e pergunta-se "quantos infelizes pereceram neste desastre, porque quiseram pegar, um suas roupas, outro, sua papelada, outro, seu dinheiro?".
Não sei se a Defesa Civil tem um patrono, mas, se não tem, deveria pegar logo Rousseau. Até onde sei, é ele que, com essas reflexões, inaugura a moderna abordagem sociológica desse tipo de evento. É claro que o fez num contexto um pouco diferente, que já explorei antes neste espaço. O bom Jean-Jacques disse o que disse em meio a uma disputa teológica. Ele se contrapunha a Voltaire (1694-1778), que, em seu "Poema sobre o Desastre de Lisboa", utilizara o sismo para introduzir o problema da teodiceia: se existe um Deus benevolente, onisciente e onipotente, como pode permitir o sofrimento de tantos inocentes? Rousseau, na ânsia de isentar a Providência de qualquer responsabilidade, preferiu lançar a culpa sobre os homens.
Deixemos, porém, o Criador de lado e nos concentremos na interação natureza-sociedade. Seria uma insanidade pretender, contra Rousseau, que erros na política de ocupação do solo e comportamentos temerários não são capazes de magnificar os efeitos de calamidades naturais. Mas é importante observar que só as chamamos de "naturais" porque há variáveis geológicas e atmosféricas envolvidas. O peso de cada qual é uma questão aberta --e com proporções que variam bastante conforme o evento.
De um modo geral, eu diria que, especialmente no Brasil, onde a meteorologia não goza de grande Ibope e onde a tradição acadêmica valoriza as chamadas forças históricas em detrimento de fatores humanos, geográficos e mesmo do bom e velho acaso, o clima acaba sendo um pouco menosprezado.
Existem, é claro, escolas alternativas. O melhor exemplo talvez seja o do geógrafo Jared Diamond, que, em seus livros "Armas, Germes e Aço" e "Colapso", coloca a geografia e o clima como explicações centrais para determinar surgimento, expansão e desaparecimento de civilizações.
Na mesma linha de pesquisa vão Raymond Fisman e Edward Miguel que, em "Economic Gangsters: Corruption, Violence, and the Poverty of Nations" (gângsteres econômicos: corrupção violência e a pobreza das nações), atribuem boa parte dos desastres da África aos caprichos do clima. Eles analisaram a relação entre secas e guerras civis e concluíram que o fator climático explica os conflitos até melhor do que as divisões étnicas e religiosas. Para esses economistas, uma queda de 5% no PIB, comum em vários países nos anos de seca, eleva em 50% (de 20% para 30%) o risco de ocorrer uma guerra civil nos 12 meses seguintes. Saindo da abstração dos números, para o sujeito que vive ali, cada vez que vem as chuvas falham, a chance de ocorrer um conflito no ano subsequente é de uma em três. E vale lembrar que a África é a região tropical do planeta com maior propensão a estiagens. É comum no continente que um país tenha de dois a três anos secos por década.
Fisman e Miguel também acharam correlações mais improváveis, como aquela entre a falta de chuvas e o maior número de mulheres assassinadas por bruxaria na Tanzânia. De novo, a deterioração das condições econômicas leva as famílias a sacrificar alguns de seus membros. A escolha acaba recaindo sobre as "bruxas", isto é, as duplamente vulneráveis: mulheres mais idosas. Nós, no conforto de nossos supermercados, já nos esquecemos de que, durante a maior parte de sua existência, os homens tiveram de apelar para infanticídios, parricídios, matricídios e vários outros "cídios" em momentos de extrema privação. Parte da humanidade ainda vive nessa era neolítica.
E essas ponderações sobre o clima nos levam à questão fundamental: de quem é a culpa pela tragédia? É a natureza/Deus ou as autoridades/cidadãos? Para responder a isso precisamos recorrer à ideia de percepção do risco, conceito onde se materializam as reações humanas diante das incertezas naturais.
E essa é uma disciplina na qual tiramos nota zero. Somos bons para fugir dos perigos que a natureza inscreveu em nossos genes: cobras, altura, plantas amargamente venenosas. Aí, a reação é imediata e nem precisamos ter certeza de que "aquela cobra" não é um simples graveto antes de sair correndo.
A questão é que esses perigos antigos são quase inexistentes nos ambientes urbanos em que vivemos hoje. Riscos modernos mais verossímeis são enchentes e outros cataclismos, acidentes automobilísticos, e venenos saborosos, como charutos e picanha. Não estamos programados para sair correndo cada vez que avistamos uma casa construída em morro nem para fugir de motocicletas. Pior ainda, corremos (e pagamos) para entrar numa churrascaria. É só através de operações intelectuais que tomamos ciência do perigo envolvido nessas situações. E, infelizmente, nem sempre reagimos a essas abstrações. Embora a cultura seja a outra via pela qual moldamos nosso comportamento, ela não é tão eficiente quanto os medos viscerais. O resultado é que ocupamos áreas de risco sem nem pestanejar. A pobreza é decerto um ingrediente a determinar quem habita onde, mas não é tudo. Mais de 90% da população norte-americana vive gostosamente em regiões onde o risco de grandes terremotos é de moderado a alto.
Um jeito de mudar essa equação seria multiplicar nossa expectativa de vida por 1 milhão. Para um ser humano que vivesse 70 milhões de anos, o ato de atravessar uma rua seria percebido como mais perigoso do que mergulhar num tanque cheio de tubarões brancos em jejum. O tempo é a chave quando pensamos em risco, isto é, em frequências relativas.
Não é de meu feitio defender autoridades públicas, mas o argumento das chuvas excepcionais não é tão estúpido. Se esperarmos o tempo necessário, é uma fatalidade aritmética que, num dado verão, o volume de água precipitada supere a capacidade da melhor engenharia de resistir a enchentes e sobrevenha uma catástrofe. Vale lembrar que, por definição, cada estação chuvosa tem uma chance em 500 de produzir a pior enchente dos últimos 500 anos. Ou uma em cem de produzir a cheia do século. Você escolhe.
Só o que podemos fazer é melhorar constantemente nossas defesas, para tentar reduzir o número de vítimas e estragos que essa "tempestade perfeita" é capaz de produzir. Nesse sentido, é mais do que legítimo que aproveitemos tragédias como a atual para pressionar as autoridades a tomar atitudes. Cobranças políticas, ainda que "injustas", são menos abstratas do que tabelas de sinistralidade. Tendem, portanto, a produzir resultados mais concretos.
Os verdadeiros escravos
Semanas atrás João Pereira Coutinho, escreveu na Folha.com sobre "O caso Monteiro Lobato". Tudo porque o Conselho Nacional de Educação, com os caninos da censura afiados, preparava-se para sinalizar com histeria politicamente correta uma obra do referido escritor onde existiam referências pouco simpáticas a "pretos".
Dizia eu que o gesto revelava a ignorância de quem propunha tal sinalização: cada obra expressa o espírito de uma época. E se limpamos Monteiro Lobato, acabamos por limpar grande parte da tradição cultural do Ocidente; uma tradição que ofenderá sempre alguém, algures, ao contestar ou ofender crenças ou valores particulares.
Um pormenor, porém, deixei de ficar de fora: limpar uma obra de arte de qualquer referência ofensiva para certas minorias ou raças é também um acto de vandalismo cultural. Porque nada nos autoriza a desfigurar uma obra de arte para que ela possa acomodar os preconceitos transitórios da nossa época.
Se não o disse sobre Monteiro Lobato, posso dizê-lo sobre Mark Twain (1835 - 1910), um dos meus autores de formação e que foi centenário no ano que findou. Leio agora que uma nova edição de "As Aventuras de Huckleberry Finn", esse amado livro, pretende apagar as 219 vezes em que a palavra "nigger" (crioulo) aparece no texto. Em substituição de "nigger", surgirá "escravo" - um termo que expressa de forma rigorosa as "relações de classe" no sul dos Estados Unidos em pleno século 19.
Como explicar essa mudança? O autor do prodígio, o professor Alan Gribben, confessou à imprensa que não consegue ler nas aulas e em voz alta as passagens da obra onde "nigger" aparece. O termo é ofensivo e, mais que ofensivo, esconde a realidade da escravatura. Para o professor Gribben, uma pequena "alteração" em nada modifica o humor e a grandeza narrativa da obra de Twain. E todos ficam contentes.
Em tempos mais civilizados, nem valeria a pena comentar a barbaridade: se um professor de Literatura é incapaz de evitar o pecado do anacronismo, exportando para o passado juízos morais que são próprios do tempo presente, isso deveria desqualifiá-lo imediatamente para ensinar Literatura.
Mas o professor Gribben não comete apenas o pecado do anacronismo. Ele pretende redimir o seu "desconforto" com um ato de vandalismo estético. Apagar as palavras originais de um autor pela substituição de novas palavras é tão grotesco como redesenhar a Capela Sistina para não ofender a sensibilidade dos ateus; pintar umas calcinhas sobre a vagina de Courbert para não ofender a dignidade feminista; extirpar toda a violência expressiva dos filmes de Tarantino para não ofender a consciência dos pacifistas. E etc. etc. etc. A lista, também aqui, não tem fim.
Os fanáticos desejam expor, com militância abusiva, os crimes da escravatura. Mas, aprisionados à sua ignorância e à sua selvajaria, nem se apercebem que os verdadeiros escravos são eles.
Ya se puede escuchar lo nuevo de Kanye West y Jay-z. Ambos han colgado el primer single de su disco conjunto Watch the Throne en Facebook. El tema, con una producción en la que se mezclan ecos clásicos y hasta operísticos se titula HAM http://cort.as/0UpA
http://www.marca.com/blogs/tiros-libres/2011/01/18/la-mascota-de-los-jazz-se-pega-en-mitad.html
A meteorologia na vida brasileira
O brasileiro nunca deu muita bola para a meteorologia, que, nos países verdadeiramente temperados, chega a ser uma obsessão nacional. A diferença se explica. Por aqui, a previsão climática é quase monótona: há o tempo seco e o chuvoso, o período de calor escaldante e o suportável. A vida não muda radicalmente quer estejamos num ou noutro. Já nas nações de altas latitudes, a estação dita o ritmo de nossas existências: o que se pode fazer no inverno é muito diferente das atividades de verão, e isso afeta desde os esportes que podem ser praticados até os estados de espírito.
No período do frio, a vida se volta para ambientes internos, a luz solar escasseia, cada incursão ao mundo exterior exige preparativos, sendo, portanto, revestida de solene gravidade. Por contraste, o verão ganha uma ligeireza quase institucional: um autêntico "midwestern" norte-americano se vestirá de bermudas e camiseta em meados de setembro mesmo que a temperatura atinja 5ºC ao cair do dia. Afinal, ainda é verão.
Por aqui, são necessário eventos catastróficos como o da região serrana do Rio de Janeiro para nos fazer lembrar da importância do clima. É claro que a quantidade de chuva é apenas um dos ingredientes da tragédia. O bom Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) já havia observado que as consequências de desastres naturais são em larga medida determinadas pelos homens. Como escreveu o genebrino a respeito do grande terremoto de Lisboa (1755), não foi a natureza que, numa área relativamente exígua "reuniu 20 mil casas de seis ou sete andares". Ele vai ainda mais além e pergunta-se "quantos infelizes pereceram neste desastre, porque quiseram pegar, um suas roupas, outro, sua papelada, outro, seu dinheiro?".
Não sei se a Defesa Civil tem um patrono, mas, se não tem, deveria pegar logo Rousseau. Até onde sei, é ele que, com essas reflexões, inaugura a moderna abordagem sociológica desse tipo de evento. É claro que o fez num contexto um pouco diferente, que já explorei antes neste espaço. O bom Jean-Jacques disse o que disse em meio a uma disputa teológica. Ele se contrapunha a Voltaire (1694-1778), que, em seu "Poema sobre o Desastre de Lisboa", utilizara o sismo para introduzir o problema da teodiceia: se existe um Deus benevolente, onisciente e onipotente, como pode permitir o sofrimento de tantos inocentes? Rousseau, na ânsia de isentar a Providência de qualquer responsabilidade, preferiu lançar a culpa sobre os homens.
Deixemos, porém, o Criador de lado e nos concentremos na interação natureza-sociedade. Seria uma insanidade pretender, contra Rousseau, que erros na política de ocupação do solo e comportamentos temerários não são capazes de magnificar os efeitos de calamidades naturais. Mas é importante observar que só as chamamos de "naturais" porque há variáveis geológicas e atmosféricas envolvidas. O peso de cada qual é uma questão aberta --e com proporções que variam bastante conforme o evento.
De um modo geral, eu diria que, especialmente no Brasil, onde a meteorologia não goza de grande Ibope e onde a tradição acadêmica valoriza as chamadas forças históricas em detrimento de fatores humanos, geográficos e mesmo do bom e velho acaso, o clima acaba sendo um pouco menosprezado.
Existem, é claro, escolas alternativas. O melhor exemplo talvez seja o do geógrafo Jared Diamond, que, em seus livros "Armas, Germes e Aço" e "Colapso", coloca a geografia e o clima como explicações centrais para determinar surgimento, expansão e desaparecimento de civilizações.
Na mesma linha de pesquisa vão Raymond Fisman e Edward Miguel que, em "Economic Gangsters: Corruption, Violence, and the Poverty of Nations" (gângsteres econômicos: corrupção violência e a pobreza das nações), atribuem boa parte dos desastres da África aos caprichos do clima. Eles analisaram a relação entre secas e guerras civis e concluíram que o fator climático explica os conflitos até melhor do que as divisões étnicas e religiosas. Para esses economistas, uma queda de 5% no PIB, comum em vários países nos anos de seca, eleva em 50% (de 20% para 30%) o risco de ocorrer uma guerra civil nos 12 meses seguintes. Saindo da abstração dos números, para o sujeito que vive ali, cada vez que vem as chuvas falham, a chance de ocorrer um conflito no ano subsequente é de uma em três. E vale lembrar que a África é a região tropical do planeta com maior propensão a estiagens. É comum no continente que um país tenha de dois a três anos secos por década.
Fisman e Miguel também acharam correlações mais improváveis, como aquela entre a falta de chuvas e o maior número de mulheres assassinadas por bruxaria na Tanzânia. De novo, a deterioração das condições econômicas leva as famílias a sacrificar alguns de seus membros. A escolha acaba recaindo sobre as "bruxas", isto é, as duplamente vulneráveis: mulheres mais idosas. Nós, no conforto de nossos supermercados, já nos esquecemos de que, durante a maior parte de sua existência, os homens tiveram de apelar para infanticídios, parricídios, matricídios e vários outros "cídios" em momentos de extrema privação. Parte da humanidade ainda vive nessa era neolítica.
E essas ponderações sobre o clima nos levam à questão fundamental: de quem é a culpa pela tragédia? É a natureza/Deus ou as autoridades/cidadãos? Para responder a isso precisamos recorrer à ideia de percepção do risco, conceito onde se materializam as reações humanas diante das incertezas naturais.
E essa é uma disciplina na qual tiramos nota zero. Somos bons para fugir dos perigos que a natureza inscreveu em nossos genes: cobras, altura, plantas amargamente venenosas. Aí, a reação é imediata e nem precisamos ter certeza de que "aquela cobra" não é um simples graveto antes de sair correndo.
A questão é que esses perigos antigos são quase inexistentes nos ambientes urbanos em que vivemos hoje. Riscos modernos mais verossímeis são enchentes e outros cataclismos, acidentes automobilísticos, e venenos saborosos, como charutos e picanha. Não estamos programados para sair correndo cada vez que avistamos uma casa construída em morro nem para fugir de motocicletas. Pior ainda, corremos (e pagamos) para entrar numa churrascaria. É só através de operações intelectuais que tomamos ciência do perigo envolvido nessas situações. E, infelizmente, nem sempre reagimos a essas abstrações. Embora a cultura seja a outra via pela qual moldamos nosso comportamento, ela não é tão eficiente quanto os medos viscerais. O resultado é que ocupamos áreas de risco sem nem pestanejar. A pobreza é decerto um ingrediente a determinar quem habita onde, mas não é tudo. Mais de 90% da população norte-americana vive gostosamente em regiões onde o risco de grandes terremotos é de moderado a alto.
Um jeito de mudar essa equação seria multiplicar nossa expectativa de vida por 1 milhão. Para um ser humano que vivesse 70 milhões de anos, o ato de atravessar uma rua seria percebido como mais perigoso do que mergulhar num tanque cheio de tubarões brancos em jejum. O tempo é a chave quando pensamos em risco, isto é, em frequências relativas.
Não é de meu feitio defender autoridades públicas, mas o argumento das chuvas excepcionais não é tão estúpido. Se esperarmos o tempo necessário, é uma fatalidade aritmética que, num dado verão, o volume de água precipitada supere a capacidade da melhor engenharia de resistir a enchentes e sobrevenha uma catástrofe. Vale lembrar que, por definição, cada estação chuvosa tem uma chance em 500 de produzir a pior enchente dos últimos 500 anos. Ou uma em cem de produzir a cheia do século. Você escolhe.
Só o que podemos fazer é melhorar constantemente nossas defesas, para tentar reduzir o número de vítimas e estragos que essa "tempestade perfeita" é capaz de produzir. Nesse sentido, é mais do que legítimo que aproveitemos tragédias como a atual para pressionar as autoridades a tomar atitudes. Cobranças políticas, ainda que "injustas", são menos abstratas do que tabelas de sinistralidade. Tendem, portanto, a produzir resultados mais concretos.
Os verdadeiros escravos
Semanas atrás João Pereira Coutinho, escreveu na Folha.com sobre "O caso Monteiro Lobato". Tudo porque o Conselho Nacional de Educação, com os caninos da censura afiados, preparava-se para sinalizar com histeria politicamente correta uma obra do referido escritor onde existiam referências pouco simpáticas a "pretos".
Dizia eu que o gesto revelava a ignorância de quem propunha tal sinalização: cada obra expressa o espírito de uma época. E se limpamos Monteiro Lobato, acabamos por limpar grande parte da tradição cultural do Ocidente; uma tradição que ofenderá sempre alguém, algures, ao contestar ou ofender crenças ou valores particulares.
Um pormenor, porém, deixei de ficar de fora: limpar uma obra de arte de qualquer referência ofensiva para certas minorias ou raças é também um acto de vandalismo cultural. Porque nada nos autoriza a desfigurar uma obra de arte para que ela possa acomodar os preconceitos transitórios da nossa época.
Se não o disse sobre Monteiro Lobato, posso dizê-lo sobre Mark Twain (1835 - 1910), um dos meus autores de formação e que foi centenário no ano que findou. Leio agora que uma nova edição de "As Aventuras de Huckleberry Finn", esse amado livro, pretende apagar as 219 vezes em que a palavra "nigger" (crioulo) aparece no texto. Em substituição de "nigger", surgirá "escravo" - um termo que expressa de forma rigorosa as "relações de classe" no sul dos Estados Unidos em pleno século 19.
Como explicar essa mudança? O autor do prodígio, o professor Alan Gribben, confessou à imprensa que não consegue ler nas aulas e em voz alta as passagens da obra onde "nigger" aparece. O termo é ofensivo e, mais que ofensivo, esconde a realidade da escravatura. Para o professor Gribben, uma pequena "alteração" em nada modifica o humor e a grandeza narrativa da obra de Twain. E todos ficam contentes.
Em tempos mais civilizados, nem valeria a pena comentar a barbaridade: se um professor de Literatura é incapaz de evitar o pecado do anacronismo, exportando para o passado juízos morais que são próprios do tempo presente, isso deveria desqualifiá-lo imediatamente para ensinar Literatura.
Mas o professor Gribben não comete apenas o pecado do anacronismo. Ele pretende redimir o seu "desconforto" com um ato de vandalismo estético. Apagar as palavras originais de um autor pela substituição de novas palavras é tão grotesco como redesenhar a Capela Sistina para não ofender a sensibilidade dos ateus; pintar umas calcinhas sobre a vagina de Courbert para não ofender a dignidade feminista; extirpar toda a violência expressiva dos filmes de Tarantino para não ofender a consciência dos pacifistas. E etc. etc. etc. A lista, também aqui, não tem fim.
Os fanáticos desejam expor, com militância abusiva, os crimes da escravatura. Mas, aprisionados à sua ignorância e à sua selvajaria, nem se apercebem que os verdadeiros escravos são eles.
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